wanderlust | a mindful triathlon

Quantas vezes já fizeram algo e não sabiam bem ao que iam? Quantas vezes vos dizem “‘bora lá!” e tu vais sem sequer questionar? Hoje em dia, infelizmente faço menos vezes, mas nunca falha, é sempre bom e eu quero que este ano seja assim. Mais espontâneo, mais arriscado, menos metódico, mais arrojado, mais louco e mais mindful. 
Este domingo foi tudo isso. Ela falou-me do Wanderlust108 há um mês, nem pestanejei, e fui comprar bilhete… até que li com calma em casa o que isto envolvia, um triatlo mindful: corrida, yoga e meditação? 
Corrida? Eu? Até ando muito a pé e subo sempre escadas quando posso, mas correr? Vou morrer…  

Somos amigas há precisamente vinte anos e este foi uma excelente maneira de celebrar uma amizade que já teve um intervalo, que já viu passar namoros, que já tem cinco filhos, os meus são teus também e vice versa. Já passou por vários países, já angariou mais membros de um grupo coeso e tão bom e acima de tudo uma amizade ao sabor do vento, ninguém impinge, ninguém exige, tudo segue consoante a ventania…   

Este domingo foi assim, seguir ao som do vento, vento esse escasso e raro, mas que estava lá… tal e qual o que vivemos há tanto tempo. 
Três mil pessoas e comemorar a ser, o estar, o verdadeiro estado de mindfulness, que é nem mais nem menos o existir no presente, tomar consciência do que somos e onde estamos, tornar-nos melhor connosco próprios e com a relação que temos com o mundo à nossa volta. 
Wanderlus . Mindfuness . Yoga . Meditação . Amor 
Palavras chave de um momento único.  
  

Correr 5km para mim não era de todo possível, não aguento correr a minha rua, por isso conheço bem as minhas limitações, mas corri o meu início, corri o meu fim e cheguei a correr… no entretanto andei com velocidade e aquele momento ninguém me tira, um estado de solidão, mas não sozinha, entre mim e o som do meu coração, dos pulmões que pulam e pedem socorro, da mente que delega o que não interessa e se foca no que vale a pena.
Seguidos de 90minutos de yoga, momento quase coreografado aos pormenor por pessoas que não se conhecem, mas que se apoiaram da forma mais bonita… não há fotografias porque desliguei-me de tudo, de todos e era só eu. Apesar dos mantras serem a três mil vozes, eu estava só. 
Seguido de meditação, que nem sei como explicar o que senti. Foi no meio de três mil pessoas que meditei e me emocionei e nao fui a única. Experiência brutal de emoções e limites. Quem nunca fez, que experimente… não é só fechar os olhos, não é ´so ficar sentado de pernas cruzadas, é ouvir-se, é sentir-se, é abstrair-se… e não, não é imaginar que és uma flor, é lembrar-te apenas que és tu.
Fui de olhos fechados à descoberta de mim mesmo e do que seria capaz de fazer quando tivesse um dia só para mim. Levada pelo entusiasmo de quem me conhece tão bem, vivi um dia inexplicável, completo, emocionante e libertador. Porque vivemos tão concentrados no mundo quando devíamos aprender a viver connosco e encontrar primeiro o nosso norte.
Um domingo que não me sai da cabeça e das dores no corpo, dói-me tudo e mais um dedo e mesmo assim sinto-me ainda a levitar.
  
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