baby v | ficas comigo?
hoje tomei a decisão.
hoje fomos ás urgências pela quarta vez contigo e eu tomei a decisão que estava a adiar tomar há uns tempos. desde o internamento que pensava nisso, a resposta na minha cabeça era sempre “não”, a do meu coração era “não, mas…”
hoje, com o diagnóstico da quarta bronquiolite, esperando que não se desenvolva para lá disso, ouvi o eco das pessoas à minha volta a dizerem “não o mandes à creche!”, “eu disse que ele não podia voltar à creche”, “a creche só faz mal”, “ele devia ficar em casa” concluindo com o som, e não sei porquê em inglês de uma voz que me diz “i told you so”
hoje tomei a decisão, vou ficar contigo em casa! tenho que te proteger de alguma maneira, sei que adoravas a tua sala, a tua Kikas e os teus amiguinhos, mas para o teu bem vais ficar em casa. quem sabe em setembro estás mais forte, mais pronto para o frio, mais pronto para as viroses, apesar de saber que as apanharás todas, prefiro assim. não te quero pesar o que esta decisão significa para mim, eu, que nunca nunca quis ficar em casa com os filhos, também não os tive para não os ver porque só penso no trabalho. esta decisão não surgiu naturalmente, mas a pediatra pediu-me, pediu com jeitinho, disse-me que é um risco grande que voltes a ser internado se em dois dias apanhas viroses… um dia pode não ser só viral e o internamento ainda está muito presente na minha memória. na tua também, vê-se quando te medem a febre, quando as enfermeiras te medem a saturação, quando tentam medir-te e quando aparecem de repente… estremeces, tens medo, queres-me a mim… então que assim seja. ficamos os dois em casa. no fundo farei o que fiz com os teus manos, fico contigo como fiquei com eles… para quê tanta pressa, temos tempo, temos uma família mais unida que nunca e temos possibilidades de parar e tomar decisões destas. somos mais do que um emprego!
vais ter que ter paciência meu querido, porque eu acho que não fui feita para isto.
vais ter que me ajudar, porque eu não sei se consigo.
vais ter que me ensinar a acalmar, porque eu sou ansiosa.
…e promete-me que seremos uma equipa com força, esperança e muito mimo.
há meses que não te escrevia uma carta, tens estado tão agarrado a mim, que tudo o que tenho para te dizer te digo na hora. tens sido bom, tranquilo, mas claro que doente ninguém aguenta. chora, faz birras, grita quando me vês passar, esperneia quando me queres… eu sei meu querido, tem sido tudo tão intenso ultimamente. não tenhas pressa… estou aqui, vou estar aqui, sempre……. e enquanto escrevo choro porque assusta-me mais ficar em casa do que te deixar numa escola… que horror, devo ser péssima mãe, devo ser um monstro quando preferia ver-te “longe” de mim em vez de aqui ao meu lado, mas juro que não é pela distância, é porque lá brincas, cantas, saltas, pulas, aprendes e convives… tenho medo de não ser “educadora de infância” o suficiente, caraças eu que odeio o canal panda, não consigo ouvir o nome ruca e fico com vergonha alheia quando vejo os caricas!!!
não sei como vou encaixar a quantidade de trabalho que tenho no meio de te ensinar a andar, as cores, os números e já agora a tabuada que os teus manos já sabem de cor e dava-me imenso jeito não passar por isto de novo quando estiveres na 2ª classe, se aprenderes agora damos um salto e pêras!
será que isto tudo era só uma preparação do que nós, os dois juntos, somos capazes? que assim seja… venha de lá esse resto de inverno, venha de lá a primavera, vamos ter um verão bom e encher os pulmões para outras fases, outras etapas, outra vida.
hoje tomei a decisão, vou ficar em casa contigo. ou ficas tu comigo? che será, será!