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#andratuttobene

#andratuttobene 001

#andratuttobene apesar de ter sido umas das que pensou se estariam a entrar um pouco em histeria quando de Milão recebemos mensagens dos amigos e família a dizer que estavam a chegar às centenas infectados aos hospitais, que começavam a morrer as primeiras vítimas deste vírus…

Os meus sogros, os dois no grupo de alto risco, não nos transmitiram ansiedade nem pânico e continuavam a vida como se nada fosse.

Os cunhados e cunhadas apenas referiam que com o Carnaval os sobrinhos ficavam em casa nas férias e entretanto logo se via… os amigos com filhos pequenos já temiam pelo pior e organizavam-se para não irem à escola… nós aqui de longe não queríamos acreditar.

Com o Carnaval, a palhaçada acabou e todos, literalmente todos fecharam-se nas suas quatro paredes, não sabendo bem quando voltariam a sair.

À rua só ia quem devia, miúdos enfiados dentro porque a chuva e frio continuavam a fazer-se sentir… um inverno infinito.

Um dia estão todos juntos e enviam fotografias de almoços em família

onde faltamos só nós, noutro tudo fechado em casa com promessas de que isto já passa e os “nonni” vêm a lisboa… até hoje… o skype aumenta a saudade, o whatsapp aumenta o cansaço, o telefone aumenta o desespero. Apesar de nos vermos e sabermos que estão bem, não queremos nunca ver ninguém assim, isolado do mundo visual e físico.

A precisar de comer e ter as compras deixados no alpendre, os medicamentos trazidos por enfermeiros em voluntariado e o jornal que não se lê.

Avós, netos e filhos separados por tanto, entre esse tanto, o medo… medo… palavra que uso tão levianamente nos meus receios pequenos e que agora toma proporções enormes, do oito ao oitenta, percebemos que não acabou em três dias de Carnaval, que já passaram três semanas desde aquele primeiro fechar de portas…

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E nós?

Perguntava o meu marido, filho e irmão e tio deles todos, será que mais vale metermo-nos num avião e ir lá, ficamos todos juntos? Não… nem um dia pensámos nisso… logo a seguir foi tomada a decisão aqui em casa, ficamos em quarentena… por nós, por eles, pelas famílias separadas, pelo médicos, pelos vizinhos que nem sempre merecem, pelos meus pais que também vão ficar sozinhos durante umas semanas sem ver as filhas e sete netos.

Pelos tios que já se queixavam de nos ver tão pouco, pela tia-bivó matriarca que mais isolada ficou, tendo eu garantido que isso não seja um problema, pelas amigas e sobrinhos emprestados, de quem morro de saudades e com quem tenho mais desabafado as minhas angústias…

De Itália as notícias melhoram,

mas não são leves ainda, o meu sogro já saiu para ir buscar o jornal, foi-lhe permitido, sendo ele doente não pode andar a passear, é humano e precisa de se mexer fisicamente e mentalmente tem que estar “em movimento”, a minha sogra já consegue tratar do jardim sem medo, arrumam tudo, já “destralharam” meia casa e já encontraram tantas memórias boas de tempos tão felizes, e com calma sentem-se menos encafuados… e nós mais aliviados.

Pedem-nos todos os dias para não sairmos, para nos resguardarmos porque só assim tudo isto passará…

Os italianos são muito parecidos connosco, mesmo muito, no entanto isso é válido para o bem e para o mal… e estarem de braços cruzados à espera de ver o que acontece foi um dos erros de Itália…

Já sabemos o que se vai passar por aqui, vamos esperar, até que morra mais alguém, até que um hospital declare exaustão e fim.

Que servissem para alguma coisa estes atrasos em Portugal… numas coisas tão grandes, noutras tão pequenos. Uns a fazerem tudo, outros a não fazer nenhum.

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O arco-íris é símbolo de esperança, de alegria, de paz… e cá em casa o nosso ocupa uma parede, a parede que eu decoro cada trimestre com algo alusivo à estação ou momento importante do ano… está tudo certo.

#andratuttobene significa #vaificartudobem e apesar de eu nunca dizer isso pelas minhas superstições, certeza tenho eu que este símbolo poderá ajudar, a manter a mente sã, com esperança e alegrar a nossa vida.

Vivemos tudo isto com o corpo aqui e a mente espalhada por todos, em aflição permanente com medo que nos liguem com más notícias…

Sejam elas de infecções, sejam de números, sejam de mortes, de uma quarentena quase eterna, de um inverno que nunca acabará… mas juntos, aqui, quietos, fazemos o melhor por nós, e por vocês, e por todos.