Ontem consegui correr os meus primeiros 5kms. De seguida!
A minha adolescência foi passada em pistas de corrida, mas daquelas em que se corre de turbo ligado e em apneia. O importante é voar e chegar à meta com o nariz esticado para ter a vantagem de 2mm. Dizer que correr me dava força era pouco, eu voava, eu toda amava corrida de competição…
Até entrar no liceu era o atletismo, o basket e o volley que me ocupavam as horas livres e alimentavam a minha vertente competitiva, acumulava medalhas e troféus e nisso ninguém me parava!
Já em adulta comecei treinos intensos no ginásio de tantas coisas diferentes, só queria passar umas horas sem estar em casa e concentrar-me num movimento, fosse dança, boxe, combat ou até pilates, fosse o que fosse eram duas horas por dia e era pouco.
De um momento para o outro o desporto foi desaparecendo, ou tornando-se cada vez menos intenso e mais tranquilo, mais espaçado… o trabalho pedia algo mais calmo, o pilates salvou-me de ficar parada e a vida na Bélgica a andar sempre de bicicleta de gastar dinheiro.
Entretanto tive filhos e a vontade de me mexer desapareceu por completo quase, tudo o que fazia era a custo e em esforço. Já me custa, já tenho mais dores, mais peso e a cabeça mais dificuldade em se abstrair de tudo, perdi o jeito para desaparecer.
Em fevereiro falei com a Raquel,
e desde aí que percebi que antes do exercício havia que alterar outros hábitos, não que eu fosse de comer só porcari, mas se há farinhas mais saudáveis porque não substituir? se há fruta que tem mais vitaminas porque comer sempre a mesma? enfim… todo um mundo…
Passados dois meses de mudar a alimentação, comecei a caminhar “mas a andar com empenho” dizia a Raquel… lá ia eu duas vezes por semana colina acima, colina abaixo.
Convicta do que fazia, a suar como se deve e com a sensação de dever cumprido. Duas vezes na semana em que eu era só eu com os meus pensamentos e organizações.
Dois meses depois, a Raquel pediu para introduzir a corrida, por cada cinco minutos a andar, correr um. Parecia peanuts… mas eu dizia sempre “não penses que me pões a fazer maratonas” ela ri-se…
Não foi o caso, de impulso comprei um bilhete para uma corrida especial… liguei logo à Raquel, “comprei bilhete, mas não quero andar, QUERO CORRER” e se há palavras de que ela gosta são estas!!
Foram 12 semanas de treino!
Longas 12 semanas de batalhas internas entre pernas e cabeça, entre espírito e corpo, entre esforço e cansaço.
12 semanas de não querer, mas ir na mesma. 12 semanas, de “não consigo” e de conseguir… e 12 semanas de passar dos meus 200m em apneia, para 5000m com calma, a correr e sem parar.
Se gosto de correr, a resposta é sempre “não sei”, mas ADORO chegar! Acabar um treino ou uma corrida tem algo de muito libertador!
Chegar à meta, seja ela o carro ali estacionado, a casa e o chuveiro, seja a meta de um evento… é sempre chegar e sempre uma conquista enorme!