Cada ano que passa, torna-se mais difícil escrever esta carta aos meus filhos… apercebo-me que crescem e que eu não controlo tanto quanto achava… ou gostaria. Sempre adorei vê-los crescer, e tornarem-se mini pessoas.
Adoro os primeiros desafios, as primeiras palavras, o tentarem fazer alguma coisa mesmo quando nós adultos sabemos que não vai correr bem. Gosto de me rir por dentro quando oiço discursos e raciocínios que não fazem sentido, mas onde se empenham com toda a alma.
Este ano os meus manos, os meus gémeos fizeram 9 anos. Quem os vê não acredita, eu sinto cada dia desses nove anos na alma, no coração, na mente, no corpo. Parece negativo, mas o que eu pretendo é dizer que para mim o milagre da maternidade, não acaba no parto, continua e o milagre da vida desenvolve-se ali, aqui, à nossa frente.
Lembro-me todos os dias de como foram e como cresceram, tenho saudades não minto, não porque agora já não são queridos, mas porque querem muito o vosso espaço e um dos meus maiores medos é que não voltem para mim…
Meu querido Matteo,
como cresceu não sei, mas parece um crescido, um adulto às vezes. Para o bom e para o mal, temos que o aturar quando às vezes se esquece de como estar à mesa, de como se responde a um adulto e de como escutar em vez de tentar interromper as conversas que ouve e não sabe contextualizar…
Presumo que sejam cosias de rapazes de nove anos, mas tenho tido dificuldade em fazer-lhe ouvir porque também se acha capaz de tudo… no entanto ainda cai e ainda se magoa.
Já o Federico nasceu teenager.
Era mínimo, deu-nos um susto ainda dentro da barriga, mas nasceu com mais força do que se esperava. Também revira os olhos como ninguém e acha que ser monossilábico é o equivalente a ser cool. Finge muitas vezes que as coisas não são consigo e odeia ser confrontado.
Tem pouca paciência para as três mil coisas que são precisas fazer, e esquece-se muito do que lhe tentamos ensinar.
No entanto… dão abraços e beijos à mãe como ninguém.
Para além de altos e lindos de morrer, têm energia para dar e vender. Têm um olhar próprio, que só o outro entende, têm uma gargalhada cada uma diferente, mas tão contagiante. Correm, saltam, ocupam o espaço no seu todo, enchem-nos o coração e a sala em três segundos. Falam como a mãe e são atentos como o pai.
Adoram o mano mais novo como de um tesouro se tratasse e não descansam enquanto ele não aprende algo que só vocês ensinam. Claro, com todos os riscos que isso comporta, mas no seu todo são coisas boas.
Mais um ano passou e eu posso afirmar que continuo cheia de orgulho, sei que tenho dias intensos e que nem sempre comunicamos como devíamos, que tenho momentos em que acho que falhei, mas não é culpa vossa, no fundo são as minhas inseguranças que me deixam mais nervosa. Sei do que são capazes e da força que têm, do mimo que dão e do coração enorme que têm. Sei que brincam muito e que sabem divertir-se imenso, são livres e têm todo o espaço do mundo.
Quero continuar
a correr com vocês, a saltar, a fazer figuras estranhas, mas levar com um sorriso enorme desse lado. Quero saber educar-vos, mas ouvir-vos acima de tudo, de vos dar tanto mimo que um dia quando eu já cá não estiver ainda se lembrem do meu cheiro, do meu toque, da minha pele como eu me lembro de quem me mimou muito, de quem me amou tanto.
Obrigada meus queridos por tudo, por serem quem são, por se preocuparem com o próximo, por saberem estar com os outros, por serem queridos e responsáveis. Obrigada, mãe.
. fotografias de Cláudia Casal .