where to stay | antwerpen

nestes últimos dias têm-me perguntado imenso porque fui a antuérpia… não lembra a ninguém, porque não bruxelas, porque não paris… porque eu vivi três anos em antuérpia, não vivi em bruxelas, não vivi em paris… parte dos dez anos que vivi fora de portugal foram passados nesta cidade, nesta pequena grande cidade. com ele, é certo… mas principalmente comigo.

antuérpia não é só onde eu vivi, dormi, trabalhei, foi onde eu cresci, tornei-me independente, profissional, mas mais que isso, no que sou hoje. parte de mim nasceu ali, sob aquele céu meio cinza, meio outonal, meio branco mas com tanta luz. onde no verão há luz de dia até às 23h, e no inverno apetece voltar para a cama à hora do almoço, onde se anda de bicicleta e só quando voltamos dez anos mais tarde nos apercebemos que há eléctricos e autocarros, onde quem manda na estrada são os ciclistas, onde os miúdos andam descalços mesmo quando um português acha que está frio, onde se comem broodjes e frietjes a qualquer hora do dia, onde há sempre tempo para pequeno-almoço fora, onde o cappuccino é substituído por algo tão denso e aconchegado como um koffee verkeerd, onde a língua soa mal, mas que fluí como manteiga quando a sabes falar, onde o cinzento tem mil tons e onde eu descobri que viver “na rua” é mais do que esperar pelos santos em lisboa.

soube a pouco, principalmente porque antuérpia é minha… ele tem a dele, eu tenho a minha e com miúdos foi quase impossível vivê-la por inteiro… mas era tão importante mostrar-lhes a nossa vida e acrescentar à imaginação o que nós já fomos e porque somos assim.

vou voltar sozinha uma vez, um dia, fazer terapia. crescer mais um pouco e ver-me como eu gosto de me ver. antuérpia viu-me sozinha, capaz de tudo, coisa que tanta vez duvidamos ser possível. deu-me coragem, independência, persistência, deu-me também uma camada de pele para enfrentar o frio que em junho nos fazia enlouquecer.

sentir falta de um sítio todos o sentimos, seja ele qual for, seja ele como for e por que razão for… mas e as pessoas? durante estes dez anos vi muitos dos nossos amigos belgas ao longo dos anos e foi bom vê-los e senti-los por perto… mas ali… ali, naquela cidade, naquele café, restaurante, parque, rua, naquele local onde eu fui mil vezes feliz, fez todo o sentido! antuérpia faz sentido. eu faço sentido porque vivi em antuérpia… e se também acho que nem tudo parece tão óbvio os meus filhos também fazem sentido, são quem são, porque eu e ele fomos felizes aqui.

de keyserlei 51 | antwerpen

é tão estranho e difícil explicar tudo o que senti nestes dias, mas aperceber-me que ainda custa dizer adeus, como também me enche o coração dizer olá é algo que só eu posso saber e sentir. antuérpia será sempre isso… um turbilhão de emoções, um lugar única onde eu me sinto em casa.