desde que os deixei na escola, no primeiro dia da primeira classe (ou ano, já percebi que há coisas que já mudaram desde que eu fui miúda…) que estou a tentar processar e explicar o que sinto. passei o verão a achar esta nova etapa maravilhosa e cheia de potencial, imaginei tudo quase ao pormenor, não do que seria cada dia, mas o que seriam as minhas expectativas, as minhas ansiedades, os meus medos e vontades. tentei nunca transmitir nada para além de que estava para começar algo muito bom, algo novo e cheio de coisas boas…
mas o tempo passou e hoje quando os deixei tive tanto medo, tanto receio por eles. e eles na boa. eles tranquilos, ansiosos de ver amigos, de ver gente nova, de conhecer a sala, a mesa e a professora… e eu a reter as lágrimas.
lembro-me do primeiro dia da creche, com dezoito meses deixei-os bem, meio confusos mas já de brinquedos novos na mão, sentei-me no banco da entrada da escolinha e chorei, pensei que não ia conseguir passar aquela manhã, que não queria ser a mãe que liga para confirmar que está tudo bem, que ia passar aquelas poucas horas a suspirar… e no entanto, quando percebi que o tempo de repente tinha passado eu estava tranquila e eles cheios de saudades boas, das que os fazem correr para nós, mas que nos levam logo a ver o que descobriram. jurei naquele dia que nunca mais iria ter medo, a escola faz parte, seja em que idade, e que eles terão tantos dias bons como momentos menos bons e que até esses servem para crescer.
hoje revivi tudo de novo. claro que estão mais crescidos, menos dependentes daquele colo e abraço, mas mesmo assim tão meus, e tão pequeninos. na maternidade sempre me custou equilibrar emoções, o que me custa a mim nem sempre lhes custa a eles e o que lhes causa tristeza nem sempre fez sentido para mim… hoje quem precisou de colo fui eu e tanto que horror. continuo sem explicar porquê, nem apontar o momento ou o detalhe que mexeu comigo, terá sido só emoção, terá sido só tentar dividir a minha atenção pelos dois, garantir que cada um está bem sem medos nem receios nem questões, terá sido do pânico em achar que eles se vão perder nos corredores, ou não gostarem de ali estar, terá sido de ainda não ter comprado o material todo, dos livros que não forrei a tempo, eu sei lá… sei que saí dali cheia de orgulho mas com o meu coração nas mãos e eu que achava que isto ia ser peanuts, que ia ser tão simples, mas mesmo com seis anos, eles não deixam de mexer comigo e de exigirem tudo de mim quer peçam ou não,
sempre achei que as mães “da primária” tinham tudo sob controlo, tudo bem gerido, emoções e logística, mas eu hoje sinto-me caloira. sinto-me perdida como se fosse eu a começar a escola de novo… como se hoje eu também fosse aluna e tantas das coisas que vivi vieram ao de cima. é verdade que estou grávida e talvez meia tonta e com as hormonas todas trocadas e à flor da pele… mas o que é certo é que faltam cinco horas e não sei bem como gerir isto.
preciso de os ver bem, alegres, felizes e com vontade de fazer tudo outra vez amanhã… mas vou ter que me armar em forte… porque se um deles correr para os meus braços com aquele sorriso desdentado, a explicar três mil coisas ao mesmo tempo, alguém que me segure, sou capaz de os afogar em beijos … e algumas lágrimas…